11.
E não, não é
uma cisão interna no Partido Socialista, como muitos querem fazer crer. É sim
uma prova inequívoca de liberdade partidária no interior de um dos maiores
partidos portugueses. Sim, são poucas, muito poucas, infelizmente, as
instituições que quatro décadas após o 25 de abril, conseguem promover e operar
num quadro democrático de ação coletiva e liberdade individual. No caso da
atual disputa pela liderança do PS, assistimos apenas (e bem!) ao reavivar dos
valores e princípios fundamentais pelos quais este partido sempre guiou o seu
desenvolvimento e diferentes sucessões. Podia ter sido de outra maneira? Podia,
mas para isso teríamos de contar com um líder disponível para o confronto em pé
de igualdade em Congresso, imediatamente após o anúncio da disponibilidade de
António Costa para lutar por esse lugar. Infelizmente, tal não aconteceu. Mas,
ainda assim, a disputa democrática continua viva!
22.
E não, não é
uma questão de personalidades, entre o atual líder e o candidato a líder. É sim
uma questão de carisma! Em todas as escolas de gestão por esse mundo fora,
aprende-se e trabalha-se as questões da liderança como elementos fundamentais
dos processos de gestão. A questão central é a de que um líder tem de ser
carismático. Liderar é partilhar estratégias, objetivos, ações, incluindo os
outros (colegas e subordinados) nos diferentes níveis, e sem imposições
autoritárias e autocráticas (muito menos burocráticas), contribuindo para um
sentido comum, organizacional, económico, político, social… Em política, o
melhor dos ‘carismómetros’ é o processo de eleições. O atual líder afirma que
venceu duas eleições (sim, é um facto), mas fê-lo por tão pequena margem que
demonstra bem a sua (in)capacidade de liderança (e sim, também por causa da sua
falta de carisma junto dos portugueses e portuguesas, e até mesmo, dos
eleitores do PS, como ficou provado nas eleições para o Parlamento Europeu
deste ano). Por outro lado, é verdade que António Costa nunca foi a votos em
campanhas nacionais, e conta também no seu currículo com algumas derrotas
locais, mas as últimas eleições autárquicas mostram bem como esmagadoramente
venceu a candidatura alternativa de Fernando Seara, com mais de 50% dos votos…
o mesmo não conseguiu fazer António José Seguro após três anos de austeridade
sobre a população portuguesa e contra a alternativa proposta pelo PSD/CDS
juntos! Não é por falar mais alto, mais grosso ou com uma pose simbolicamente
mais poderosa que se cria um líder! Um líder atrai, reúne apoios, congrega
vontades, e atua eficiente e eficazmente quando tal lhe é solicitado,
mostrando-se aberto à luta e ao confronto democrático.
33.
E não, “eles
não são todos iguais”! Recuso-me a alinhar com esta frase batida da vox populi e de alguns agentes da
comunicação social, tentando enfatizar a falta de elementos distintivos entre
partidos, candidatos, propostas, medidas. Sim, a política é diferença de
opiniões, de propostas, de visões sobre o mundo e a sua capacidade de nele intervir.
A política é confronto democrático, consubstanciado na exposição de ideias, na
recolha de apoios, na capacidade de argumentação e de intervenção, na
constituição de equipas capazes, entre outros elementos. António José Seguro e
António Costa pertencem ao mesmo partido há décadas, comungam dos mesmos
princípios e valores do socialismo democrático, ou da social-democracia, como
preferiram, nos quais se fundaram os partidos socialistas europeus. Alguém
esperava sinceramente que os temas em discussão fossem profundamente
diferentes, que as ideias em discussão fossem radicalmente opostas, que o
confronto entre ambos fosse uma espécie de confronto entre ideologias de
esquerda e de direita? Esse é apenas um argumento artificial para contribuir
para a ideia que “os políticos são todos
iguais” e assim mesmo afastando cada vez mais os cidadãos da luta política,
plural e democrática.
44. E não, não
estão a apresentar as mesmas propostas. Os temas em discussão são os mesmos,
sim, mas os programas de ambos são efetivamente diferentes.
António
José Seguro assume a proposta de um modelo de desenvolvimento económico 4.0,
uma espécie de ‘choque tecnológico’ reciclado, com o apoio da estratégia de
desenvolvimento económico alemão. Apostar na produção de bens e serviços com base
na internet, sofisticados e inovadores, que requerem um tecido económico
moderno, tecnologicamente avançado e qualificações avançadas. Quarenta medidas
consubstanciam este programa de políticas públicas.
António
Costa opta por capacitar Portugal, os seus recursos humanos e naturais
para que possam ser colocados ao serviço de um modelo de desenvolvimento
económico e social mais coeso, mais solidário e mais inovador, não apenas
pensando nas estruturas produtivas ligadas às tecnologias de informação e comunicação,
mas tendo um olhar mais abrangente sobre a economia e a sociedade… mais
inclusivo, também, no contexto de uma União Europeia alargada e com elementos
de política económica e monetária comuns! Modernizar a administração pública e
qualificar as pessoas e as instituições são âncoras para um novo ciclo de
crescimento económico e progresso social.
Não
entrarei nos detalhes de ambas as propostas, mas convinha que o(a)s jornalistas
o fizessem, em vez de alimentar os romances cor de rosa que eventualmente dariam
belas capas de revistas da sociedade, mas que em nada contribuem para o debate
político em curso.
55. E não, não
sou militante do Partido Socialista. E sim, sou “simpatizante” das suas
políticas e das suas propostas de governo, em alternativa a um governo de
direita. Mas não cumpro todos os requisitos para me poder inscrever e assinar a
declaração sob compromisso de honra que me autorizaria a participar nesta
disputa pela liderança do PS, por isso ficarei de fora a assistir…
Talvez,
esta reflexão contribua de algum modo para a discussão!
Para uma não militante, uma análise lúcida da situação atual do PS.
ResponderEliminarParabéns.