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6 de julho de 2014

Porque os políticos não são todos iguais!

11.       E não, não é uma cisão interna no Partido Socialista, como muitos querem fazer crer. É sim uma prova inequívoca de liberdade partidária no interior de um dos maiores partidos portugueses. Sim, são poucas, muito poucas, infelizmente, as instituições que quatro décadas após o 25 de abril, conseguem promover e operar num quadro democrático de ação coletiva e liberdade individual. No caso da atual disputa pela liderança do PS, assistimos apenas (e bem!) ao reavivar dos valores e princípios fundamentais pelos quais este partido sempre guiou o seu desenvolvimento e diferentes sucessões. Podia ter sido de outra maneira? Podia, mas para isso teríamos de contar com um líder disponível para o confronto em pé de igualdade em Congresso, imediatamente após o anúncio da disponibilidade de António Costa para lutar por esse lugar. Infelizmente, tal não aconteceu. Mas, ainda assim, a disputa democrática continua viva!
22.       E não, não é uma questão de personalidades, entre o atual líder e o candidato a líder. É sim uma questão de carisma! Em todas as escolas de gestão por esse mundo fora, aprende-se e trabalha-se as questões da liderança como elementos fundamentais dos processos de gestão. A questão central é a de que um líder tem de ser carismático. Liderar é partilhar estratégias, objetivos, ações, incluindo os outros (colegas e subordinados) nos diferentes níveis, e sem imposições autoritárias e autocráticas (muito menos burocráticas), contribuindo para um sentido comum, organizacional, económico, político, social… Em política, o melhor dos ‘carismómetros’ é o processo de eleições. O atual líder afirma que venceu duas eleições (sim, é um facto), mas fê-lo por tão pequena margem que demonstra bem a sua (in)capacidade de liderança (e sim, também por causa da sua falta de carisma junto dos portugueses e portuguesas, e até mesmo, dos eleitores do PS, como ficou provado nas eleições para o Parlamento Europeu deste ano). Por outro lado, é verdade que António Costa nunca foi a votos em campanhas nacionais, e conta também no seu currículo com algumas derrotas locais, mas as últimas eleições autárquicas mostram bem como esmagadoramente venceu a candidatura alternativa de Fernando Seara, com mais de 50% dos votos… o mesmo não conseguiu fazer António José Seguro após três anos de austeridade sobre a população portuguesa e contra a alternativa proposta pelo PSD/CDS juntos! Não é por falar mais alto, mais grosso ou com uma pose simbolicamente mais poderosa que se cria um líder! Um líder atrai, reúne apoios, congrega vontades, e atua eficiente e eficazmente quando tal lhe é solicitado, mostrando-se aberto à luta e ao confronto democrático. 
33.       E não, “eles não são todos iguais”! Recuso-me a alinhar com esta frase batida da vox populi e de alguns agentes da comunicação social, tentando enfatizar a falta de elementos distintivos entre partidos, candidatos, propostas, medidas. Sim, a política é diferença de opiniões, de propostas, de visões sobre o mundo e a sua capacidade de nele intervir. A política é confronto democrático, consubstanciado na exposição de ideias, na recolha de apoios, na capacidade de argumentação e de intervenção, na constituição de equipas capazes, entre outros elementos. António José Seguro e António Costa pertencem ao mesmo partido há décadas, comungam dos mesmos princípios e valores do socialismo democrático, ou da social-democracia, como preferiram, nos quais se fundaram os partidos socialistas europeus. Alguém esperava sinceramente que os temas em discussão fossem profundamente diferentes, que as ideias em discussão fossem radicalmente opostas, que o confronto entre ambos fosse uma espécie de confronto entre ideologias de esquerda e de direita? Esse é apenas um argumento artificial para contribuir para a ideia que “os políticos são todos iguais” e assim mesmo afastando cada vez mais os cidadãos da luta política, plural e democrática.
44.   E não, não estão a apresentar as mesmas propostas. Os temas em discussão são os mesmos, sim, mas os programas de ambos são efetivamente diferentes.
António José Seguro assume a proposta de um modelo de desenvolvimento económico 4.0, uma espécie de ‘choque tecnológico’ reciclado, com o apoio da estratégia de desenvolvimento económico alemão. Apostar na produção de bens e serviços com base na internet, sofisticados e inovadores, que requerem um tecido económico moderno, tecnologicamente avançado e qualificações avançadas. Quarenta medidas consubstanciam este programa de políticas públicas.
António Costa opta por capacitar Portugal, os seus recursos humanos e naturais para que possam ser colocados ao serviço de um modelo de desenvolvimento económico e social mais coeso, mais solidário e mais inovador, não apenas pensando nas estruturas produtivas ligadas às tecnologias de informação e comunicação, mas tendo um olhar mais abrangente sobre a economia e a sociedade… mais inclusivo, também, no contexto de uma União Europeia alargada e com elementos de política económica e monetária comuns! Modernizar a administração pública e qualificar as pessoas e as instituições são âncoras para um novo ciclo de crescimento económico e progresso social.
Não entrarei nos detalhes de ambas as propostas, mas convinha que o(a)s jornalistas o fizessem, em vez de alimentar os romances cor de rosa que eventualmente dariam belas capas de revistas da sociedade, mas que em nada contribuem para o debate político em curso.
55.   E não, não sou militante do Partido Socialista. E sim, sou “simpatizante” das suas políticas e das suas propostas de governo, em alternativa a um governo de direita. Mas não cumpro todos os requisitos para me poder inscrever e assinar a declaração sob compromisso de honra que me autorizaria a participar nesta disputa pela liderança do PS, por isso ficarei de fora a assistir…

Talvez, esta reflexão contribua de algum modo para a discussão!

1 comentário:

  1. Para uma não militante, uma análise lúcida da situação atual do PS.
    Parabéns.

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