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30 de setembro de 2013

O "Usurpador", o "Prudente" e o "Conquistador"

Ontem não pude votar! Foi uma das muito poucas vezes em que não exerci esse direito tão importante para mim. E com muita pena!

Sou das que considero que o voto é um poder inalienável dos cidadãos, principalmente para as mulheres, símbolo de igualdade de oportunidades e das sociedades democráticas. E, portanto, símbolo máximo da igualdade entre as pessoas (1 pessoa=1 voto). Mas, não fui votar, não porque quisesse, mas porque não pude! Não estando a viver em Portugal, as eleições autárquicas não contam para os expatriados, emigrantes, etc. E por isso também nós não podemos contar  para esta importante decisão. Talvez a revisão da lei eleitoral solicitada pelo Sr. Presidente da República se devesse dedicar também a este assunto dado o número de pessoas que estão atualmente a trabalhar fora do país.

No entanto, acompanhei a "Noite Eleitoral" (epíteto mediático da cobertura jornalística feita aos atos eleitorais em tempos de 'sociedade da informação'), e nela os discursos de vitória (alguns muito pouco entusiasmantes e pouco esperançosos, outros mesmo, demonstrativos do rancor acumulado e das pequenas vinganças), e os de derrota (dos que nunca deveriam ter sido sequer escolhidos pelos partidos políticos pela sua falta de qualidade intelectual e capacidade argumentativa ou dos que cabisbaixos afirmavam que o que importa são os combates, não as vitórias).

Esperei - embora o fuso horário me exigisse um pouco mais de resistência física do que aos meus concidadãos residentes em Portugal - pelos três discursos, a meu ver, mais importantes, dado que neles se joga(rá) o presente e o futuro do nosso país: o de Pedro Passos Coelho, o de António José Seguro e o de António Costa.

E não posso deixar de fazer uma analogia "histórica" com cada um deles. Se hoje se discutissem cognomes para os nossos líderes, estaríamos, na minha opinião, perante o Usurpador, o Prudente e o Conquistador.

Pedro Passos Coelho no seu cada vez mais estilo linguístico próprio (que tanto deve à língua portuguesa) reinventou tempos verbais e utilizou mais uns quantos neologismos para afirmar a sua derrota e do seu partido. Mas... quem sai derrotado, em princípio reconhece os erros, reconsidera as suas posições, avalia as suas acções... Pois bem! O Primeiro-Ministro acha que não! Acha que deve continuar em frente porque as suas opções político-ideológicas é que estao certas! As pessoas votaram - uns melhor informados, outros menos, com certeza - mas disseram-lhe (a ele e ao seu governo) veementemente que nao queriam que este fosse o caminho. E???!!! Usurpando a sua condição de estar no poder - hoje já não representado pela mesma base eleitoral do que quando foi eleito, como estas próprias eleições o demonstraram - sentenciou: Vamos continuar como até aqui! A ele só se poderia aplicar o mesmo cognome de D. Miguel I, o Usurpador. Continua, continuará, continuará...

E logo de seguida, surgiu António José Seguro, facis grave, semblante carregado. Anunciou a vitória histórica do Partido Socialista em modo enlutado. Falou de sofrimento, de dor, de angústia, de desespero... enfim, fez o que muitos chamam de 'apelar ao coração' dos portugueses. Se não convençe os eleitores de outro modo, vai tentar esta abordagem lamechas que (pensa ele) o tornará no amigo a quem nos queixamos e com quem partilhamos as nossas desilusões e angústias. Vale a pena rever o vídeo do episódio de campanha em Castelo Branco, em que uma professora-reformada em desespero chora convulsivamente abraçada ao Tó Zé...
Seguro? Nem tanto, talvez mais adequado, seja atribuir-lhe o cognome de O Prudente! Sabendo que no interior do PS os ventos começarão a mudar e que os 51% rapidamente começarão a ser comparados com os 37%, haja prudência que o aguente como líder.

E pelo meio, surgiu António Costa, no ALTIS, na sala apinhada de militantes e simpatizantes para celebrar as vitórias socialistas, a relembrar outras tantas "noites eleitorais". O Conquistador da maioria absoluta em Lisboa mais expressiva de sempre, da Assembleia Municipal, da maioria das freguesias, e quem sabe do que mais virá por aí...
Perguntaram-lhe se ia ficar na Câmara Municipal de Lisboa pelo período do mandato para que foi eleito. E ele respondeu à jornalista, "Sabe se estará na mesma estação de TV daqui a um ano?", ou seja, traduzindo do politiquês, significa "Eu estou disponível para todas as outras conquistas que forem necessárias". A primeira batalha foi ontem, e saiu vencedor. As próximas batalhas avizinham-se duras, intestinas, e por isso muito mobilizadoras... mas o sorriso infantil do A. Costa a tentar disfarçar a sua grande alegria com a possibilidade de poder vir a ser algo mais, no partido e no país, revelou mais do que ele provavelmente queria dizer com as suas palavras atiradas em jeito de brincadeira!

Para começo, terá apenas que repetir os 51-52% da maioria absoluta, mas desta vez dentro do PS. Há certamente uma esperança renovada depois da noite de ontem...


PS - Durante quase dois anos não fiz um único post sobre política ou outros assuntos sérios. Hoje respiro melhor...!!!

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