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3 de outubro de 2010

13 de Maio - 29 Setembro; Ano 2010: As pessoas deixaram de ter importância

Passaram-se quatro meses e duas semanas e aí está o novo plano de austeridade! Há quem afirme que o FMI não faria melhor, outros afirmam que o Governo tem de explicar o que se passou para que o primeiro plano apresentado em Maio tenha falhado, outros ainda acham mesmo que agora temos é de seguir em frente, aprovar o orçamento e aguardar que os mercados estabilizem e que a despesa começe a baixar...

Há posições para todos os gostos como seria de esperar numa sociedade plural, democrática, aberta.

Mas exactamente por este mesmo conjunto de atributos da nossa vida colectiva merecíamos todos que se fizesse a avaliação clara do que aconteceu.

O orçamento de estado e as despesas públicas têm uma estrutura própria, conteúdos próprios e lógicas de contabilidade e contabilização próprias, mas não se trata concerteza de princípios de funcionamento esotéricos, para que só alguns os consigam entender, sendo os restantes tratados como uma massa amorfa a quem se pode 'dar' ou 'tirar' recursos financeiros consoante a onda em que se está.

Parece-me que este é um péssimo princípio para lidar com as pessoas num regime democrático. Pois é, as pessoas! Existem pelo menos uns 10 milhões desses espécimes que não sendo financeiros (ou monetários) parece que os governantes têm cada vez mais dificuldade em lidar com eles, em falar-lhes e em compreender as suas (também muito importantes) condicionantes.

As pessoas são os pensionistas que sobrevivem a custo com 300, 400, 500 euros por mês num país que tem um custo de vida muito acima das possibilidades da maioria que nele vive, trabalha ou simplesmente sobrevive. As pessoas são os trabalhadores do famigerado salário mínimo (ainda não chega a 500 euros) e dos salários médios (700 euros) que têm filhos a quem querem legitimamente garantir um futuro melhor, com mais possibilidades de realização pessoal e profissional, com mais equidade e que, para isso, trabalham (ou trabalharam) duramente. As pessoas são os funcionários públicos (da dita classe média) que ganham mais de 1500 euros por mês e que sem que tenham produzido menos, tido pior desempenho, atingido menos resultados vão todos ver (de modo cego, pois só assim se consegue ver a despesa descer) os seus salários mensais reduzidos. As pessoas são também os mais pobres e excluídos a quem o estado achou por bem, em tempos idos, apoiá-los para melhor se integrarem socialmente, contribuindo assim de modo decisivo para a redução da pobreza e exclusão social. As pessoas são os empresários que, paradoxalmente, vão pagar salários menores (porque a redução salarial na administração pública vai ter impactos no sector privado, indiscutivelmente, mesmo quando o estado nele não intervém directamente) o que poderia contribuir para aumentar 'artificialmente' a produtividade e a competitividade, mas ao mesmo tempo vão ver a sua capacidade de concorrência no mercado global cada vez mais comprometida, ao ter de agravar em 2% o custo dos seus produtos.

Às pessoas deve-se pelo menos uma clara explicação do que se passou, do que se está a passar e do que se passará no nosso futuro colectivo. Como se diz num tom mais coloquial: às pessoas deve-se, pelo menos, uma satisfação. Já que alguns parecem agora satisfeitos com o que acabaram de anunciar.

Tempos erráticos, estes! As pessoas... as pessoas parece que deixaram de ter importância!

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