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4 de setembro de 2015

"Com papas e bolos se enganam os tolos"

Paulo Portas é acima de tudo um "marketeiro"! No programa "Temos uma pergunta para si", ontem, na TVI, em plena pré-campanha para as eleições legislativas de 2015 transmitiu à exaustão a mensagem política eleitoral da coligação Portugal à Frente (PAF).

A mensagem é simples, e por isso de fácil compreensão, especialmente concebida para atingir um eleitorado menos atento, menos qualificado e também menos preparado para analisar mensagens de maior complexidade e exigência.

Ora vejamos: 1º. regresso à primavera de 2011; 2º. insistência no risco de "bancarrota" iminente deixado pelo governo PS; 3º. assistência internacional à força para pagar "salários e pensões"; 4º. governação sob "protectorado" permanentemente recusado pela coligação; 5º. afirmação continuada e comparativa de que "Portugal não é a Grécia"; 6º. o país agora está no caminho certo - economia cresce, desemprego diminui, exportações disparam...

Foram 90 minutos de pura propaganda política, com Portas no seu melhor! Mas no caso dele, quanto melhor, pior! E assim foi.

Comecemos, então, por desmontar cada uma das premissas.

A conveniência do regresso a 2011. Lembrar Sócrates, o seu governo, o seu legado, as consequências de uma governação, segundo a coligação, sem rigor financeiro nem responsabilidade colectiva. O argumento certo para afirmar que votar PS novamente significa regressar ao passado, ao despesismo, ao facilitismo, à asfixia democrática, e por aí fora. Marcando temporalmente 2011 como o ano de comparação, a permanente evocação de Sócrates está garantida, mesmo que a ele pessoalmente, não se possam referir durante a campanha.

O papão da "bancarrota". Em 2011, o risco existente nos mercados financeiros que condicionava por essa altura o financiamento da economia e do Estado português, assentava numa dívida pública a rondar os 90% e um crescimento em redor de 1% do PIB, em decréscimo para uma recessão consequência das medidas de austeridade já implementadas. Hoje, a dívida pública é cerca de 40 pontos percentuais acima do valor de 2011, e o crescimento económico aproxima-se timidamente de 1,5% do PIB. Passou o risco a ser significativamente menor? Não! O que passou a existir foi uma operação de compra de dívida dos países da UE por parte do BCE que permite uma percepção de risco diferente. A bancarrota que paira sobre as nossas finanças públicas é superior, dado o volume de dívida pública e a contração da capacidade dos agentes económicos nos últimos anos. Se o BCE suspendesse as suas operações de financiamento dos Estados-membros, a ilusão dos "cofres cheios" e do "défice controlado" passaria a uma negra confrontação com a triste realidade de um estado mais pobre, menos capaz e mais dependente.

Os salários e pensões que ficariam por pagar, escondem os milhões transferidos directamente para o sistema financeiro. Até a Grécia, continua a pagar salários e pensões, após três resgates financeiros e o eminente colapso do sistema político.

Governar com a troika era o paraíso prometido pela coligação PSD/CDS quando em campanha eleitoral para as legislativas de 2011. O Memorando de Entendimento foi negociado com os dois partidos sentados à mesa das negociações e celebrado com "usies" de apertos de mão na sala de reuniões da casa de Eduardo Catroga. Recusar agora as medidas constantes no memorando como se de um xarope amargo se tratasse, o qual foram forçados a engolir, é a mais conveniente das falsidades, e só Paulo Portas o poderia fazer de forma tão cinicamente "irrevogável".

A comparação entre Portugal e a Grécia serviu sempre o propósito de "dividir para reinar". Se, Portugal não é a Grécia, muito custou aos países do Sul essa desunião, face a uma Europa dividida por preconceitos mais ou menos vagos entre os "povos do Sul" e os "povos do Norte". Portugal é a Grécia, Grécia é Portugal, e no contexto de uma União Europeia forte, todos os países são Europa. Esse sim, é o caminho certo e não o da acusação mútua para fazer crescer uma divisão artificial entre um "nós" e "eles" que acarreta consigo a destruição dos princípios fundadores de solidariedade e coesão constantes nos tratados.

E, finalmente, a "boa nova". Tudo está bem, quando acaba bem, e os salvadores devem ser recompensados. Tudo flui positivamente! "Os dados são do INE, não são do governo! Dei sempre o meu melhor em favor do meu país!" Tudo palavras proferidas ontem por Paulo Portas. Os 300 mil a menos na população activa? Não existem! O emprego recuperou 120 mil postos de trabalho! As exportações atingiram 43% do PIB, a preços constantes, dados do INE, sempre! Resultado da diplomacia económica... mas, desculpem-me não fui eu que inventei o conceito!! Como, Dr. Portas? Não foi capaz? Um estratega das relações internacionais...
Os estágios que o PS quer acabar! Não, Dr. Portas, o PS não quer acabar com os estágios. Quer, sim, acabar com os estágios não remunerados que contribuem para modelos de relações laborais desadequadas numa sociedade desenvolvida e numa economia de mercado.

E a economia? A economia cresce...

E o Senhor, Dr. Paulo Portas, qual foi o seu papel nesta maravilhosa transformação de Portugal numa país mais pobre, com menos exigência cidadã, com menos oportunidades, mais desigual, mais envelhecido e mais frágil perante as grande potências europeias?

"Eu, eu? orgulho-me muito de ter sido o Oliveira da Figueira!!!"

Obrigada, Dr. Portas, mas vendedores de banha da cobra já não são necessários. A tempestade foi mesma séria e ninguém tinha dinheiro para comprar os seus guardas-chuva no meio do deserto...

Espero, sinceramente, que a próxima demissão seja mesmo irrevogável!

14 de julho de 2014

Um mercado de trabalho "encolhido"

O relatório de 2013 sobre a evolução do emprego a nível mundial publicado pela Organização Internacional do Trabalho conclui que pela primeira vez desde que esta organização analisa a relação entre o crescimento económico e a criação de emprego não se verifica uma relação direta entre estas duas dimensões. Ou seja, enquanto premissa científica é colocada em causa a teoria económica segundo a qual a criação de emprego seria sempre uma consequência do crescimento económico.
Isto foi verdade, sempre que ao crescimento económico estava associado o desenvolvimento de atividades produtivas baseados em relações económicas sobre bens transacionáveis, mas a profunda alteração dos sistemas de produção e a crescente importância das transações financeiras como parte importante das economias nacionais altera profundamente a lógica estabelecida.
Os serviços financeiros enquanto componente económica fundamental dos sistemas capitalistas modernos influencia de modo decisivo a variável crescimento económico sem que a isso corresponda necessariamente mais ou melhores empregos.
De facto, o que se verifica em termos mundiais é que nos países mais desenvolvidos a componente de criação de emprego está praticamente estagnada, nomeadamente na maioria dos países da União Europeia.
Contrariar esta tendência implica opções e medidas de política pública corajosas que valorizem o fator trabalho em detrimento do fator capital. O modelo social europeu não sobreviverá se o mercado de trabalho continuar a encolher ao ritmo a que se tem assistido. Será essa a única opção para a Europa após 60 anos de desenvolvimento e progresso?

Esta opção gerará o maior retrocesso nas políticas sociais que os países europeus jamais presenciaram desde a II Guerra Mundial. Serão então as desigualdades sociais "sustentáveis"?


6 de julho de 2014

Porque os políticos não são todos iguais!

11.       E não, não é uma cisão interna no Partido Socialista, como muitos querem fazer crer. É sim uma prova inequívoca de liberdade partidária no interior de um dos maiores partidos portugueses. Sim, são poucas, muito poucas, infelizmente, as instituições que quatro décadas após o 25 de abril, conseguem promover e operar num quadro democrático de ação coletiva e liberdade individual. No caso da atual disputa pela liderança do PS, assistimos apenas (e bem!) ao reavivar dos valores e princípios fundamentais pelos quais este partido sempre guiou o seu desenvolvimento e diferentes sucessões. Podia ter sido de outra maneira? Podia, mas para isso teríamos de contar com um líder disponível para o confronto em pé de igualdade em Congresso, imediatamente após o anúncio da disponibilidade de António Costa para lutar por esse lugar. Infelizmente, tal não aconteceu. Mas, ainda assim, a disputa democrática continua viva!
22.       E não, não é uma questão de personalidades, entre o atual líder e o candidato a líder. É sim uma questão de carisma! Em todas as escolas de gestão por esse mundo fora, aprende-se e trabalha-se as questões da liderança como elementos fundamentais dos processos de gestão. A questão central é a de que um líder tem de ser carismático. Liderar é partilhar estratégias, objetivos, ações, incluindo os outros (colegas e subordinados) nos diferentes níveis, e sem imposições autoritárias e autocráticas (muito menos burocráticas), contribuindo para um sentido comum, organizacional, económico, político, social… Em política, o melhor dos ‘carismómetros’ é o processo de eleições. O atual líder afirma que venceu duas eleições (sim, é um facto), mas fê-lo por tão pequena margem que demonstra bem a sua (in)capacidade de liderança (e sim, também por causa da sua falta de carisma junto dos portugueses e portuguesas, e até mesmo, dos eleitores do PS, como ficou provado nas eleições para o Parlamento Europeu deste ano). Por outro lado, é verdade que António Costa nunca foi a votos em campanhas nacionais, e conta também no seu currículo com algumas derrotas locais, mas as últimas eleições autárquicas mostram bem como esmagadoramente venceu a candidatura alternativa de Fernando Seara, com mais de 50% dos votos… o mesmo não conseguiu fazer António José Seguro após três anos de austeridade sobre a população portuguesa e contra a alternativa proposta pelo PSD/CDS juntos! Não é por falar mais alto, mais grosso ou com uma pose simbolicamente mais poderosa que se cria um líder! Um líder atrai, reúne apoios, congrega vontades, e atua eficiente e eficazmente quando tal lhe é solicitado, mostrando-se aberto à luta e ao confronto democrático. 
33.       E não, “eles não são todos iguais”! Recuso-me a alinhar com esta frase batida da vox populi e de alguns agentes da comunicação social, tentando enfatizar a falta de elementos distintivos entre partidos, candidatos, propostas, medidas. Sim, a política é diferença de opiniões, de propostas, de visões sobre o mundo e a sua capacidade de nele intervir. A política é confronto democrático, consubstanciado na exposição de ideias, na recolha de apoios, na capacidade de argumentação e de intervenção, na constituição de equipas capazes, entre outros elementos. António José Seguro e António Costa pertencem ao mesmo partido há décadas, comungam dos mesmos princípios e valores do socialismo democrático, ou da social-democracia, como preferiram, nos quais se fundaram os partidos socialistas europeus. Alguém esperava sinceramente que os temas em discussão fossem profundamente diferentes, que as ideias em discussão fossem radicalmente opostas, que o confronto entre ambos fosse uma espécie de confronto entre ideologias de esquerda e de direita? Esse é apenas um argumento artificial para contribuir para a ideia que “os políticos são todos iguais” e assim mesmo afastando cada vez mais os cidadãos da luta política, plural e democrática.
44.   E não, não estão a apresentar as mesmas propostas. Os temas em discussão são os mesmos, sim, mas os programas de ambos são efetivamente diferentes.
António José Seguro assume a proposta de um modelo de desenvolvimento económico 4.0, uma espécie de ‘choque tecnológico’ reciclado, com o apoio da estratégia de desenvolvimento económico alemão. Apostar na produção de bens e serviços com base na internet, sofisticados e inovadores, que requerem um tecido económico moderno, tecnologicamente avançado e qualificações avançadas. Quarenta medidas consubstanciam este programa de políticas públicas.
António Costa opta por capacitar Portugal, os seus recursos humanos e naturais para que possam ser colocados ao serviço de um modelo de desenvolvimento económico e social mais coeso, mais solidário e mais inovador, não apenas pensando nas estruturas produtivas ligadas às tecnologias de informação e comunicação, mas tendo um olhar mais abrangente sobre a economia e a sociedade… mais inclusivo, também, no contexto de uma União Europeia alargada e com elementos de política económica e monetária comuns! Modernizar a administração pública e qualificar as pessoas e as instituições são âncoras para um novo ciclo de crescimento económico e progresso social.
Não entrarei nos detalhes de ambas as propostas, mas convinha que o(a)s jornalistas o fizessem, em vez de alimentar os romances cor de rosa que eventualmente dariam belas capas de revistas da sociedade, mas que em nada contribuem para o debate político em curso.
55.   E não, não sou militante do Partido Socialista. E sim, sou “simpatizante” das suas políticas e das suas propostas de governo, em alternativa a um governo de direita. Mas não cumpro todos os requisitos para me poder inscrever e assinar a declaração sob compromisso de honra que me autorizaria a participar nesta disputa pela liderança do PS, por isso ficarei de fora a assistir…

Talvez, esta reflexão contribua de algum modo para a discussão!

30 de setembro de 2013

O "Usurpador", o "Prudente" e o "Conquistador"

Ontem não pude votar! Foi uma das muito poucas vezes em que não exerci esse direito tão importante para mim. E com muita pena!

Sou das que considero que o voto é um poder inalienável dos cidadãos, principalmente para as mulheres, símbolo de igualdade de oportunidades e das sociedades democráticas. E, portanto, símbolo máximo da igualdade entre as pessoas (1 pessoa=1 voto). Mas, não fui votar, não porque quisesse, mas porque não pude! Não estando a viver em Portugal, as eleições autárquicas não contam para os expatriados, emigrantes, etc. E por isso também nós não podemos contar  para esta importante decisão. Talvez a revisão da lei eleitoral solicitada pelo Sr. Presidente da República se devesse dedicar também a este assunto dado o número de pessoas que estão atualmente a trabalhar fora do país.

No entanto, acompanhei a "Noite Eleitoral" (epíteto mediático da cobertura jornalística feita aos atos eleitorais em tempos de 'sociedade da informação'), e nela os discursos de vitória (alguns muito pouco entusiasmantes e pouco esperançosos, outros mesmo, demonstrativos do rancor acumulado e das pequenas vinganças), e os de derrota (dos que nunca deveriam ter sido sequer escolhidos pelos partidos políticos pela sua falta de qualidade intelectual e capacidade argumentativa ou dos que cabisbaixos afirmavam que o que importa são os combates, não as vitórias).

Esperei - embora o fuso horário me exigisse um pouco mais de resistência física do que aos meus concidadãos residentes em Portugal - pelos três discursos, a meu ver, mais importantes, dado que neles se joga(rá) o presente e o futuro do nosso país: o de Pedro Passos Coelho, o de António José Seguro e o de António Costa.

E não posso deixar de fazer uma analogia "histórica" com cada um deles. Se hoje se discutissem cognomes para os nossos líderes, estaríamos, na minha opinião, perante o Usurpador, o Prudente e o Conquistador.

Pedro Passos Coelho no seu cada vez mais estilo linguístico próprio (que tanto deve à língua portuguesa) reinventou tempos verbais e utilizou mais uns quantos neologismos para afirmar a sua derrota e do seu partido. Mas... quem sai derrotado, em princípio reconhece os erros, reconsidera as suas posições, avalia as suas acções... Pois bem! O Primeiro-Ministro acha que não! Acha que deve continuar em frente porque as suas opções político-ideológicas é que estao certas! As pessoas votaram - uns melhor informados, outros menos, com certeza - mas disseram-lhe (a ele e ao seu governo) veementemente que nao queriam que este fosse o caminho. E???!!! Usurpando a sua condição de estar no poder - hoje já não representado pela mesma base eleitoral do que quando foi eleito, como estas próprias eleições o demonstraram - sentenciou: Vamos continuar como até aqui! A ele só se poderia aplicar o mesmo cognome de D. Miguel I, o Usurpador. Continua, continuará, continuará...

E logo de seguida, surgiu António José Seguro, facis grave, semblante carregado. Anunciou a vitória histórica do Partido Socialista em modo enlutado. Falou de sofrimento, de dor, de angústia, de desespero... enfim, fez o que muitos chamam de 'apelar ao coração' dos portugueses. Se não convençe os eleitores de outro modo, vai tentar esta abordagem lamechas que (pensa ele) o tornará no amigo a quem nos queixamos e com quem partilhamos as nossas desilusões e angústias. Vale a pena rever o vídeo do episódio de campanha em Castelo Branco, em que uma professora-reformada em desespero chora convulsivamente abraçada ao Tó Zé...
Seguro? Nem tanto, talvez mais adequado, seja atribuir-lhe o cognome de O Prudente! Sabendo que no interior do PS os ventos começarão a mudar e que os 51% rapidamente começarão a ser comparados com os 37%, haja prudência que o aguente como líder.

E pelo meio, surgiu António Costa, no ALTIS, na sala apinhada de militantes e simpatizantes para celebrar as vitórias socialistas, a relembrar outras tantas "noites eleitorais". O Conquistador da maioria absoluta em Lisboa mais expressiva de sempre, da Assembleia Municipal, da maioria das freguesias, e quem sabe do que mais virá por aí...
Perguntaram-lhe se ia ficar na Câmara Municipal de Lisboa pelo período do mandato para que foi eleito. E ele respondeu à jornalista, "Sabe se estará na mesma estação de TV daqui a um ano?", ou seja, traduzindo do politiquês, significa "Eu estou disponível para todas as outras conquistas que forem necessárias". A primeira batalha foi ontem, e saiu vencedor. As próximas batalhas avizinham-se duras, intestinas, e por isso muito mobilizadoras... mas o sorriso infantil do A. Costa a tentar disfarçar a sua grande alegria com a possibilidade de poder vir a ser algo mais, no partido e no país, revelou mais do que ele provavelmente queria dizer com as suas palavras atiradas em jeito de brincadeira!

Para começo, terá apenas que repetir os 51-52% da maioria absoluta, mas desta vez dentro do PS. Há certamente uma esperança renovada depois da noite de ontem...


PS - Durante quase dois anos não fiz um único post sobre política ou outros assuntos sérios. Hoje respiro melhor...!!!

29 de outubro de 2011

Quem ama, cuida

O Caetano Veloso tem na letra de uma das suas muitas canções esta frase: Quem ama, cuida.
Foi a partir dela que me inspirei para fazer este post.

Não, não vou escrever algo sobre uma paixão recente, uma história romântica de um casal apaixonado, mas antes uma provocação sobre as relações estabelecidas entre os cidadãos e os bens públicos.

Portugal anda a ser muito maltratado. As marcas desses maus-tratos são muito visíveis no espaço público. As nossas ruas, os nossos jardins, os nossos hospitais e centros de sáude, as nossas escolas, as nossas universidades, os nossos quartéis, as nossas praias, as nossas florestas, os nossos parques naturais, os nossos rios, as nossas 'coisas públicas' estão cada vez mais maltratadas, descuidadas, reflectindo um espírito desrespeitoso e violento que se instalou na nossa sociedade sem que o conseguíssemos contrariar.

O lixo que se acumula, os pseudo-grafittis (não os verdadeiros, que são uma expressão interessantíssima de arte urbana), os equipamentos que não funcionam meses a fio sem que haja alguém que os conserte, as calçadas levantadas e os buracos nos pavimentos, as praias sujas, as casas abandonadas, a desordem instalada na arrumação dos bens públicos veio mostrando que o povo português não cuida do seu país. E não, não é apenas um dever das instituições públicas fazê-lo! É um dever de todos!

Quem ama, cuida! Se efectivamente apreciássemos as fantásticas coisas que nos rodeiam no nosso país e que todos podemos usufruir ainda sem grandes custos, cuidariamos delas com gestos delicados, rotineiros... não nos permitiriamos passar ao lado de lixo espalhado pelo chão e não o devolvermos a um recipiente a ele dedicado, não deixaríamos as beatas na areia das nossas fantásticas praias, não utilizaríamos os equipamentos públicos como nunca o fazemos com os nossos equipamentos privados e domésticos (o célebre atirar de objectos pela janela do carro é a caricatura máxima desta ideia).

Os países mais desenvolvidos encontraram formas de utilização do espaço público mais respeitosas e carinhosas. Entendem o bem público como sendo um pouco propriedade de todos, e por isso fica mais fácil cuidar, já que todos têm a responsabilidade partilhada de o fazer...  Esse deveria ser o entendimento: todos nós temos um bocadinho dos bens públicos e por isso mesmo deveríamos tratá-los como nossos, amando-os e cuidando deles.

25 de setembro de 2011

O progresso das nações: um triângulo com três vértices (democracia, direitos humanos e capitalismo)

A natureza e experiência humanas estão ainda cobertas de mistério. Apesar dos avanços verificados no conhecimento científco e na interpretação e compreensão das diferentes dimensões da existência humana(biológicas, neurológicas, psicológicas, sociológicas, entre outras), há ainda muitas descobertas por fazer, muito conhecimento por construir, muita tecnologia para produzir.

Passaram apenas pouco mais de dois séculos, desde o início desta aventura da razão que permitiu a descoberta e o conhecimento sobre as melhores formas de viver em sociedade, as melhores maneiras de vivermos saudáveis durante mais tempo e com melhor qualidade de vida, as mais eficazes maneiras de comunicar, de concebermos e produzirmos objectos adaptados ao nosso dia-a-dia... tudo isto no pressuposto de que haverá sempre umas sociedades mais avançadas e desenvolvidas e outras em que os modos de existência estão a tentar alcançar esse mundo de progresso e de riqueza.

Os caminhos históricos de uns e de outros cruzaram-se em versões colonialistas, em regimes ditatoriais (militarizados e xenófobos, na maioria das vezes), em formas de exploração humana sem qualquer respeito pelos direitos humanos (como é exemplo máximo, a escravatura, o comunismo e o racismo levados às últimas consequências)... e, por isso, prometeram-nos o éden... o caminho do progresso, da liberdade, da felicidade individual e colectiva estaria a um passo de todos!

Primeiro, a democracia como regime político seria a premissa para alcançar estes objectivos. Depois, o regime capitalista influenciaria os meios de produção, as formas de relação social e económica tranformar-se-iam e os direitos humanos e sociais vigorariam como a mais suprema forma de entendimento social entre forças que se posicionam face a interesses distintos.

E as pessoas? As pessoas seriam as mais beneficiadas de tudo isto. A liberdade de pensamento, de acção, de escolha traria a mais sofisticada das felicidades - o livre arbítrio (racional, solidário e humanista). E para além disso, com a globalização, o caminho para o mundo seria simples: um cada vez maior número de pessoas teria acesso a todas estas possibilidades. Primeiro a Ásia e a América Latina, depois África, e pelo caminho, o Médio Oriente (embora este último tenha surpreendido tudo e todos com a recente Primavera Árabe).

Idealista? Utópica? Foi esta a visão da sociedade que nos venderam, terminados os conflitos armados nos países mais desenvolvidos...

Mas porque é que estamos então a passar pela mais relevante crise social desde o final da segunda guerra mundial nos países mais desenvolvidos?

Dizem que os equílibrios mudaram, que os pressupostos da globalização, mesmo tendo beneficiado muitos milhões de pessoas, afinal, tiveram um efeito boomerang nos países mais desenvolvidos.

Porquê? Porque o capitalismo financeiro triunfou sobre todos os outros modos de organização social - os políticos, os jurídicos, e até mesmo, paradoxalmente, os económicos. Para que o caminho de progresso apontado se tivesse concretizado cada um dos vértices em que se sustenta o progresso das nações não poderia ter perdido importância, mas infelizmente foi o que aconteceu... Restabelecer o equílibrio é fundamental para ultrapassar esta situação!

27 de março de 2011

É possível, trinta anos depois, uma alternativa à esquerda?

Estamos em plena crise política! Na última década de tão usada a palavra crise deixou de ter conteúdo preciso. Trata-se agora de um adjectivo para qualquer situação e perdeu por isso o seu sentido de gravidade. Mas, efectivamente, neste momento Portugal e a União Europeia (embora nem todos os países da mesma forma) sofrem a maior crise desde a segunda-guerra mundial.
A crise da insolvência financeira!

Em Portugal, e desprezando os escassos recursos financeiros (pagos a peso de ouro em cada emissão de dívida bem sucedida) que por agora ainda dispúnhamos, inciámos um período de enorme turbulência política. A metáfora aérea é realmente a que melhor se adequa quando perante os nossos futuros se constrói mais do que provável um cenário de despenhamento.

Vamos todos despenhar-nos mas com a insustentável leveza de quem concretiza uma mudança. O Primeiro-ministro em funções exagerou, é verdade! Exagerou no disfarçe da situação, nos gastos supérfluos, no jogo político, na desatenção às finanças públicas e às consequências do seu descalabro, nos compromissos estabelecidos internacionalmente sem consultar devidamente os órgãos de soberania nacionais, entre outros exageros... mas o que se avizinha, por agora, é muito pior!

A disfarçes e zigue-zagues todos os políticos cedem, mas em democracia (palavra tão usada por estes dias) um povo informado, esclarecido e qualificado pode tomar decisões racionais e que não sejam apenas hirper-reacções ao contexto e à cirscunstância.

As alternativas políticas para as próximas eleições legislativas antecipadas são claras.

Em primeiro lugar terá de existir uma maioria parlamentar, venha ela de onde vier!

E, neste contexto, os apelos ao bloco central numa configuração parlamentar dominada pela direita, seria o cenário mais vantajoso para quem prentede fazer mudanças monstruosas sem oposição veemente. O segundo cenário é uma maioria absoluta do PSD, fazendo regressar mais um D. Sebastiao (cavaquista), com alguns dos seus mais leais seguidores, como é o caso do Prof. Eduardo Catroga, já alinhado para próximo Ministro das Finanças (novamente!).

Ninguém discute como que por medo a possibilidade da esquerda reunir essa maioria parlamentar e de uma vez por todas encerrarmos diferenças ideológicas ultrapassadas pela mudança social e geo-política, nomeadamente numa Europa que tanto precisa de ESQUERDA!

Esta é uma alternativa, a meu ver, a que o PS deveria dar alguma atenção... pelo menos, num primeiro momento, iniciando um conjunto de conversas para ver se conseguem estar de acordo nalguns pontos fundamentais, sem colocar em causa a economia de mercado, a integração europeia ou o regime democráctico.

Que estranheza me causa a ideia de existir um PS que mais facilmente se revê num programa de  exterma-direita do que num de esquerda pragmática de matriz socialista.

Por uma alternativa de esquerda, vale a pena pensar bem antes de votar!

20 de março de 2011

Para pensarmos sobre Portugal...

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer -
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a Hora!

Fernando Pessoa, Nevoeiro

6 de novembro de 2010

Por uma causa nobre e solidária

Caro(a)s amigo(a)s,

Há coisas que nos emocionam até às lágrimas e hoje como há muito não me acontecia ao ler uma notícia no jornal, o artigo da Joana Pereira Bastos no Expresso intitulado Escolas Lutam contra a fome provocou-me uma profunda angústia por viver num país que criou uma sociedade tão desigual.

As nossas escolas públicas têm hoje muitos problemas de gestão e organização como sabemos, mas a crer na notícia, há muitas que fazem também um trabalho extraordinário de apoio cívico e solidariedade social. Organizam os seus refeitórios para que ao fim de semana e nos períodos de férias escolares algumas das crianças que as frequentam possam ter acesso a uma refeição quente.

Nunca imaginei que fosse este o Portugal que teríamos no início do século XXI. Contudo, os grandes problemas muitas vezes necessitam de grandes solidariedades e pode ser que seja esta também uma maneira de transformarmos as nossas vidas quotidianas em vidas mais solidárias.

Assinem a petição do António Costa Pereira contra o desperdício alimentar e contribuam sempre (como também faço) para as campanhas do Banco Alimentar.
O link da petição é:  peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=Cidadao

Por um Portugal mais solidário!!

 

1 de novembro de 2010

A sociedade da informação e a economia do conhecimento (ou a Sociedade e a Economia do mais ou menos isso)

Sou socióloga de formação e aprendi que as sociedades se podem caracterizar a partir de diferentes variáveis, tendo em conta os contextos socio-históricos e os regimes políticos que as enquadram. Nestes últimos anos temos visto a sociedade apelidar-se de sociedade 'da informação' a que se alia, quase sempre, em segundo lugar, a economia do conhecimento.
Nesta classificação a sociedade contemporânea é vista como um conjunto de relações e interacções sociais que se baseia e valoriza cada vez mais a informação que os indivíduos ou as instituições possuem ou a que tem acesso. Esse é a mais preciosa mercadoria no contexto actual. E, por isso, ganha sentido também a ideia de que a economia se deve basear no saber e no conhecimento cada vez também mais complexo e avançado.
Para competir nesta economia e com base neste tipo de organização social os sistemas educativos e de formação das pessoas têm um papel crucial. As escolas e as instituições educativas e formativas várias (centros de formação profissional, empresas, associações de desenvolvimento local e regional e outros) têm uma enorme tarefa e uma imensa responsabilidade face aos efeitos que as suas acções acarretam.
Educar ou formar hoje é necessariamente diferente do que se pedia e fazia, por exemplo, há 100 anos. Os desafios são totalmente diferentes, os recursos pedagógicos e humanos também, as próprias instituições educativas são hoje contextos radicalmente diferentes das que se tinham há apenas um século para cumprir as mesmas funções e papéis. Se tudo mudou, os resultados tabém têm de ser necessariamente diferentes, não é assim? Mas diferentes como? Para melhor? Para pior? Para mais eficientes? Para mais eficazes? Para mais aprofundados? Para mais transversais? Para mais específicos?

Os resultados dos processos de ensino-aprendizagem deveriam ser um dos principais objectivos dos sistemas de educação-formação. Mas hoje as escolas e os seus diferentes agentes (professores, órgãos de gestão, alunos, pais, funcionários, parceiros diversos) preocupam-se com objectivos também eles mais diversos: garantir a equidade! integrar todos! trabalhar com os parceiros da comunidade! ganhar eficiência e eficácia na gestão dos recursos! garantir a disciplina! garantir condições de trabalho adequadas para responder à diversidade social! .... .... 

E, no meio de tudo isto, será que em cada 90 minutos de aula, em cada dia de escola, em cada período de avaliação, em cada ano escolar cada um desses agentes faz a devida avaliação sobre o que ensinou, o que aprendeu, o que lhe ensinaram, o que aprenderam...

Enfim, a pergunta fundamental: que conhecimento foi adicionado e que informação foi transmitida e incorporada em cada hora de trabalho numa instituição educativa, garantindo assim que a escola está a responder aos desafios da sociedade em que se integra?

Sou das que acha que as escolas e as instituições educativas em Portugal cumpriram bem o seu papel de democratizar o acesso dos alunos (de todos os alunos) à escola (principalmente através da escola pública) mas será que não deveríamos estar já a questionarmo-nos sobre os resultados dos processos de ensino-aprendizagem?

Tenho tido acesso a um conjunto de alunos que sairam do ensino secundário há dois anos e são por isso 'filhas e filhos' da escola democratizada, aberta, inclusiva e participativa. São cidadãos de plena voz, têm mais de 18 anos, podem exercer o seu direito de voto, são alunos universitários e por isso podemos dizer que o ensino superior os seleccionou. E o que sabem?

Sabem muitas coisas, ou melhor, sabem onde procurar informação sobre muitas coisas. As tecnologias de informação e comunicação são ferramentas quotidianas de interacção social, de trabalho, de estudo, de lazer. Têm muita confiança em si próprios. São na sua maioria jovens muito bem integrados e pertencentes aos grupos mainstreaming das culturas juvenis. E quando se lhes pede que apresentem um conceito que é discutido num texto científico (ou académico) não conseguem fazê-lo sem recorrer, em primeiro lugar, ao Power Point (ou aplicação semelhante), em segundo lugar, a uma definição básica e simplista (quer em termos de linguagem quer em termos dos seus elementos fundamentais), e em terceiro lugar, quando não sabem o que dizer mais... dizem "ou mais ou menos isso".

Rigor? Definição e discussão conceptual ou teórica de teorias ou princípios de acção? Corpos teóricos em relação com propostas metodológicas? Nada!

Tudo mais ou menos isso...é esta a sociedade da informação e a economia do conhecimento que os nossos sistemas de educação-formação conseguiram produzir... uma sociedade do mais ou menos isso!!